quarta-feira, 8 de junho de 2011

Sobre as Deusas

Macha:
Na antiguidade, época do renascer da agricultura, a imagem divina era feminina, ligada normalmente a colheita e fertilidade. Em Ulster esta deusa era conhecida como Macha. Macha também era o sol, aquecendo a terra, fazendo-a fértil, trazendo alimento a mesa. Em outros lugares a deusa da agricultura era Epona.

"Macha irradia uma aura de paz e satisfação plácida. Ela é guardiã da lareira, e como tal é a patrona e protetora da vida doméstica e da estabilidade. O simbolismo sagrado da lareira e do fogo opera em diversos níveis na tradição irlandesa - nas práticas legais dos celtas insulares, a manutenção de uma chama doméstica era parte essencial do ritual pelo qual a posse da terra era reclamada, e em tempos modernos era costume, ao menos em algumas áreas da Irlanda, que a sogra da noiva lhe passasse o atiçador e a convidasse para regular o fogo na lareira."


Citação:

Proinsias MacCana, The Celtic Consciousness



A Deusa Macha é uma deusa pré-céltica associada com Morrígan, a formidável deusa da guerra, da morte e da sensualidade, Macha é uma das três faces das Morrígans. 

Seu pai era o "Aed, o vermelho" e sua mãe era Ernmas (druida feminina).
Macha foi esposa de Nemed e consorte de Nuada, chamada de "Mulher do Sol". Ancestral do Galho Vermelho, é a Rainha da Irlanda, filha de Ernmas e neta de Net. Seu corpo é o de um atleta e seus símbolos são o cavalo e o corvo.

Macha está presente no "Livro das Invasões" quanto nas lendas do Ciclo de Ulster. Esta deusa é uma deidade tipicamente celta, pois em dado momento ela parece ser suave e generosa, para em outro se transformar um terrível mulher guerreira.

Crunniuc era um viúvo, proprietário de algumas terras no norte da Irlanda. Certa feita, sentado no salão de seu palácio, viu à distância uma mulher caminhando em sua direção. Já de longe ele percebera que se tratava de uma belíssima mulher. Ela entrou na sua casa e começou a organizar roupas, alimentos e mobílias, deu ordem aos seus empregados, como se sempre estivesse ali. Fez um excelente jantar e o convidou para mesa, após isto convidou-o para se deitar. Crunniuc já deitado, observou a bela mulher percorrer o quarto no sentido horário e deitar-se na cama, os dois fizeram amor.

Como deusa protetora dos eqüinos e apaixonada por seu marido, ela multiplicou-os de maneira assombrosa e passava as manhãs correndo e competindo com eles pelos prados. Neste período, Crunniuc prosperou como nunca, e recebeu o reconhecimento dos outros nobres da região. Aparentemente, a mulher, cujo nome ela o instruíra a jamais perguntar, trouxera-lhe boa fortuna. E, logo em seguida Macha fica grávida.

Chegou a época das festividades do rei de Ulster e todos os nobres deveriam participar, e ao se despedir de sua mulher, esta o alertou "não digas nada de que possa se arrepender" ele afirmando a cabeça disse que nada falaria..
No festival, no momento que os cavalos do rei corriam e todos apostavam nas corridas, muitos comentavam "Não existem cavalos mais rápidos do que os do rei", "Nada pode derrotá-los em corrida". Movido pela embriaguez, Crunniuc se levanta e grita: "Minha mulher corre muito mais rápido que estes cavalos". Rapidamente foi levado a presença do rei, para cumprir o desafio. Macha foi trazida por mensageiros e lamentava "Uma grande desgraça se abate sobre mim, que tenho que, grávida, ir libertar aquele fanfarrão embriagado" Enquanto ela se aproximava as contrações iam se intensificando, ela pediu ao rei clemência, pois seria muito arriscado correr em tão avançado estado. Movido pela embriaguez muitos acharam até divertido e não ouviram seus apelos.

Macha, dada a largada, ganha sem dificuldades. Mas tão logo cruzou a linha de chegada, lança um tremendo grito que causou arrepios aos mais valentes guerreiros e em seguida ali mesmo na pista de corrida da a luz a gêmeos.

Sentindo-se humilhada, reunindo toda sa força levanta e grita: "Eu sou Macha, e para sempre meu nome vai ser lembrado nesta terra.. Eu os amaldiçoo, que no momento que os guerreiros de Ulster mais precisarem de forças, sentiriam as mesmas dores do parto que eu senti, ficando assim impossibilidados."

O local em questão, chamado de Émain Macha, pode ser traduzido como "os gemeos de Macha" e fica no condado de Armagh (Ard Macha, ou "A Grande Macha").

E assim a maldição se cumpriu. Somente as mulheres, as crianças e o Herói Cu chulainn, filho de Lugh, o único imune à maldição, ficaram a salvo das palavras de Macha, que deveriam durar nove gerações.

Macha chega até nossas vidas para nos afirmar que todas as mulheres são deusas. Todas nós somos pequenos pedaços de um grande ser: a Grande-Mãe. Ela, nas suas várias formas de manifestação, é o símbolo principal da própria representação do inconsciente. Uma boa parte deste planeta já busca o resgate desta sabedoria. Não estamos descobrindo nada novo, mas sim simplesmente revelando o que já se é.

Quando nos afastamos do sagrado, acabamos fatalmente relegando à um segundo plano à paz, o amor e a alegria. Quando nos esquecemos que a vida é sagrada, nós perdemos a conexão com a força planetária da vida e ficamos à sombra da nossa verdadeira natureza.


Bibliografia:
Interpretação de A Woman of Ulster - por Jani Farrell
O Livro da Mitologia Celta - Claudio Crow Quintino
www.rosanevolpato.trd.br