A Roda do Ano no hemisfério sul
As estações do ano aqui no hemisfério sul são invertidas, com relação ao hemisfério norte. Assim, quando lá é inverno, aqui é verão e vice-versa.
A Roda do Ano, em seu conceito original, foi criada por bruxas e bruxos que viviam no hemisfério norte. Dessa forma, é comum encontrarmos em livros e sites as datas correspondentes a esses países. Existem tradições em torno dessas celebrações.
Muitos pagãos preferem não alterar o sentido original da Roda e celebrá-la de acordo com as estações no hemisfério norte, de acordo com o original. Alguns outros celebram os sabbats menores de acordo com o hemisfério sul e os maiores de acordo com o hemisfério norte. Outros celebram a Roda pelo hemisfério sul mesmo, pois é onde estamos.
Há diversos motivos positivos e negativos para todas essas opções. Não há uma opção “certa”. Se você quiser celebrar pelo sul, então você terá a chance de acompanhar na pele o frio do inverno durante a celebração, ou o sol em seu auge no verão, a chegada da primavera, as folhas caindo no outono. No entanto, ao celebrar pelo norte, você aproveitará a época de Halloween no final de outubro mesmo, dará ovos de Páscoa para seus amigos em Ostara e por aí vai. A celebração mista garante ambas as situações e acaba sendo a alternativa mais natural, porém depende muito de cada um. O que vale a pena lembrar é que a Roda do Ano não se restringe somente ao acompanhamento das estações, e a simples inversão de datas não é realista.
Trata-se de uma escolha pessoal, na verdade. A pessoa escolhe a maneira de celebração de acordo com o que pede o seu coração. Não há uma “dica” ou “fórmula” para escolher como celebrar. O mais adequado mesmo seria tentar celebrar de todos os jeitos, para ver como você se sente. De fato você sentirá no primeiro ritual que fizer, se não for a maneira com a qual você se sente melhor.
O que é muito importante é não se esquecer de que há outras pessoas celebrando também. Lembre-se da rede; da grande teia que nos envolve. Por mais que celebremos Beltane em novembro, não podemos nos esquecer que naquela mesma época nossos amigos do hemisfério norte estão celebrando Samhaim. E esse é um dos grandes baratos da Roda: ela não tem começo, nem meio, nem fim. Não há demarcação. Você pode entrar em qualquer ponto e já estará dançando junto com todos. E é importante respeitar também a história da cultura que você “segue”. Trazer Samhaim para maio não é a mesma coisa que celebrar este sabá em outubro, pois não estamos na Bretanha! Não é só trocar as datas – há muita coisa diferente.
Em nenhum lugar do planeta a roda é igual. Até no sertão do Nordeste, onde temos aquela ideia constante de seca, há períodos de chuvas e inundações. O ideal é você observar tais mudanças no seu ambiente e adaptá-las para a Roda do Ano. Isso vai dar o seu toque à Bruxaria que você pratica. Isso que vai fazer você ter uma experiência realmente íntima com a sua religiosidade.
Obviamente é interessante você descobrir quais são os alimentos típicos de sua região para poder usá-los nos rituais para honrar a Terra e realizar o banquete. Há muito o que se descobrir! E nós devemos ser criativos!
O sentido de colheita pode nos ser muito mais simbólico que, de fato, real. No equinócio de outono, por exemplo, procure meditar a respeito das sementes que você plantou no outro ano, e o que você está colhendo agora. Foi compensador? O que poderia ter sido diferente? Qual sua relação nisso tudo? Mas não se esqueça de quem celebrou tudo isso com colheitas de verdade. Talvez você tenha suas próprias “colheitas”. Observe a Natureza. Preste atenção. Essa é a dica de ouro.
A verdade é que a Roda do Ano é sem dúvida real, mas também é riquíssima em simbolismo. Quanto mais você vai lendo sobre, observa a Natureza em todas as épocas, realiza os rituais, mais você descobre uma coisinha aqui e outra ali. E é muito importante você anotar tudo o que está sendo desenvolvido dentro da sua mente e coração.
Celebrar pelo hemisfério sul pode ser complicado, especialmente para quem ainda é dependente financeiramente. Tem coisas que são assim mesmo: enquanto você não tiver a sua própria casa ou o seu próprio espaço, tudo pode ser bastante difícil.
Imagine celebrar o solstício de inverno em junho. O Natal é celebrado no dia 25 de dezembro, e tem basicamente o mesmo conceito das práticas pagãs sobre o solstício de inverno (mesmo porque o Cristianismo disfarçou muitas práticas pagãs chamando-as de cristãs). A própria árvore de Natal, com uma estrela no topo, é uma imagem clara de como as práticas pagãs sobreviveram há tantos séculos. Enfim, celebrar em junho pode ser bastante decepcionante, se você procura reunir a sua família, porque eles não vão entender muito bem o que está acontecendo (e não são todos aqueles que querem ouvir a sua explicação, infelizmente). O mesmo ocorre com o equinócio de primavera e a tradição de pintar ovos. Se você decorar ovos em setembro e der para seus amigos, possivelmente vão tentar lhe fazer lembrar que a Páscoa é em abril. Ossos do ofício.
Quem celebra pelo hemisfério sul deve estar preparado para esse tipo de situação. Se você tem certa liberdade em casa, ou mora sozinho(a), pode ter mil ideias para celebrar em casa, chamar os amigos, mesmo a família, e é uma ótima oportunidade de estar junto deles. Lembre-se que a ancestralidade é muito importante na prática da Bruxaria. Provavelmente seus amigos ficarão curiosos e você poderá explicar (sem chatice) porque você está fazendo aquilo. Com toda a certeza eles acharam bacana e aproveitarão a oportunidade de ir em uma festinha, hehe. Não se preocupe. Aproveite a vida e harmonize.
Por mais que existam todos esses “probleminhas” na hora de “escolher” de que modo celebrar, nada disso é maior do que a sensação de acordar cedo no dia de solstício de verão e sentir o calor do sol, honrando a Natureza como um(a) bruxo(a) sabe fazer. Ou ficar em silêncio no fim da madrugada de Yule, esperando a criança da promessa nascer. São sensações indescritíveis e estão ao alcance de todos nós, pois independe de situação financeira, amorosa ou psicológica para sentirmos. A Natureza é o que é, sempre, e está aí para todos. Não pire tentando descobrir “qual a melhor forma de celebrar”. Deixe a vivência falar por si própria.
FONTE: BRUXARIA.NET